Inverno na primavera


Hoje voltei a sentir frio e pus gola alta e as mesmas calças de ontem. 
Esqueçam a máscara de pestanas. Depois, se me apetecer, não posso chorar.
Voltei a ver o meu pai da janela. Deixou flores e ovos do campo à porta. Sorriu, mas acheio-o “em baixo”. Ouvi a minha mãe pelo telefone e isto não me faz sentido nenhum. Tenho saudades! Estou descrente! 
Esta privação de vida, de ar, de pessoas. Uma Páscoa sem família em reunião. Uma escola sem alunos e professores, um ensino à distância. Sem humanização. Sem relação. 
E depois um país inteiro pós-covid a tentar reerguer-se dos destroços; para quando?!
As pessoas vão ver a vida com outros olhos, dar-lhe O sentido e vão ser agradecidas quando tudo passar - leio por todo o lado. Quando eu acho mesmo que quem sempre só se viu a si nesta vida e nunca se deu ao outro (com verdade), vai sair “daqui” ainda mais melindrado, metido em si e esquecido do outro.
E depois, ou antes de tudo, vem a saúde mental. Vamos reencontrar-nos nesta pandemia ou vamos perder para sempre o nosso “Eu”, o nós e vós?
Vai mesmo ficar tudo bem??? Desculpem, mas hoje não acredito nada nisso.

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