Real life

Anseio por este dia logo que o ano escolar chega ao fim. É bom sinal quando chega, ainda mais em outubro, mas fico sempre a bater mal quando começo.
Esta instabilidade (profissional) que tem mais de uma década habituou-me mal. E é provavelmente a única que nos sabe a mel; e o jeito que nos dá - chega a ser um luxo - que "este dia" só chegue agora. Esta instabilidade é das boas, daquelas que nos permite "lá estar" para a estabilidade deles. Durante este tempo consigo ser mãe a tempo inteiro, estar atenta, vê-los sem que me vejam e estar a 100% e presente em todos os momentos da vida deles - com o distanciamento que a relação mãe-filho exige (não sou mãe galinha e muito menos neurótica).
Consigo literalmente participar no primeiro dia de aulas (tão importante!), ver e ouvir todos os dias a professora/educadora, levá-los e ir buscá-los à escola sem pressas e fazer desta trivialidade um passeio e uma festa só nossa. Consigo transmitir-lhes a segurança que precisam para que agora na nossa "ausência" tenham a certeza absoluta que vai correr tudo bem. Sem constrangimentos consigo fazer a adaptação daquele que "salta de ciclo": ir mais tarde, voltar mais cedo, dormir a sesta, ou simplesmente não ir e ficar como filho único. Consigo fazer os "desmames" e também andar louca (e feliz) de um lado para o outro mas chegar sempre aos três. [eles são tão pequeninos e precisam tanto da mãe/pai para os orientar] 

Durante esta instabilidade, que considero do mais estável para os meus filhos, não há o peso na consciência que agora me persegue. A partir desta semana (e não me estou a queixar, é um desabafo, o luto - haja sempre trabalho!!) não chego a horas de os ir apanhar à escola, de me cruzar com as professoras, de partilhar a euforia in locu do final do dia de escola. De colorir em dueto as imagens que acompanham o I e o U dos trabalhos de casa do Vicente como fazíamos até à semana passada - mas que continua a fazer feliz da vida assim que chega da escola com a " avó que também é professora".

Sei a resposta, mas fico em silêncio  quando o Mia pergunta se é amanhã que o vou buscar à sala amarela.
Esta semana, temos um Sebastião que parece ressentido, que resmunga mais que nunca, que não me larga assim que chego a casa e que demora uma eternidade a adormecer sedento do nosso colo (e da mama). Esta semana, começaram as rotinas de outubro e do outono, de quando a mãe começa a trabalhar e que eles até já sabem.
A partir de agora não temos mãos que cheguem e temos de os deixar entregues a outras - que fazem tudo tão bem como nós e ainda bem que as temos e não podemos estar mais gratos por isso.

Ainda nos estamos a alinhar à "nova" real life e a fazer todos os dias o melhor que conseguimos para que tudo continue a ser o mais parecido com o dantes e eles não sintam a "mudança".

Amanhã já é sexta-feira e tenho a certeza que vai correr tudo bem...